Reencontros poéticos

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FÓRMULA
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Precisamos de profundidade.
Aos poucos ficamos
largura x comprimento =
superfície.
O sol sobe e desce no céu
e ninguém adivinha o milagre.
O garfo sobe e desce na boca
e ninguém alcança transcedência.
Usamos vestidos brancos
e flores na cabeça.
E pisamos nossos mortos
esquecidos da humana primavera.
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Conheci esse poema em 1989 e por longo tempo afinou com minhas idéias a respeito do nosso estar no mundo, distanciados da nossa essência e da natureza. Os ritos que superficializam nosso cotidiano. A poeta Gilka Bessa é  de Goiânia e esse poema está no livro Câmara lúcida. É um livro bonito com fotos da Rosary Esteves que ilustram os poemas. As imagens impressas em papel granulado semi brilho, ficam embaixo dos papéis de seda onde estão impressos os poemas que seguem muitas vezes o contorno das imagens. Em época de tanta virtualidade, manusear esse livro já é um modo de retorno à nossa "humana primavera".
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