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(...) entre uma e outra grande baforada de calor desbravei na semana passada novos lugares, pessoas e cheiros em João Pessoa formando uma experiência interessante, em especial porque a cidade se apresentou aos meus olhos pelo campus da universidade com todas as contradições que esse Brasil possui: pessoas orgulhosas por pertencerem ao espaço público e gratuito do Ensino Superior discutindo sobre acesso à informação e inclusão digital da sociedade em geral, sem que seus professores e alunos tenham, no entanto, redes abertas para wireless ou biblioteca equipada com cadeiras limpas e/ou computadores para serem utilizados; mas a faculdade de Direito dispõe de ar condicionado e paredes limpas de um prédio recém construído... parece que o recado político do Estado é dado por essas brechas de infraestrutura dizendo que alguns cursos são mais importantes que outros para se produzir conhecimento... os professores eram simpáticos e traziam lá suas idéias fundamentadas nas leituras diversas que eu me esforçava por aprender e seguir o convite da nova lógica. O desafio, por vezes, instigava, por outras inquietava e sussurrava pedindo paciência para que eu conseguisse manter os passos adiante. Por lá não há um restaurante universitário, mas os quiosques espalhados pelo campus adaptam self service em meio às árvores. A macaxeira é garantida, a falta de higiene também, mas o sotaque marcado dá o ar da graça nordestina.
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O hotel tinha wireless com conexão lenta, cama grande, colchão bom, ampla janela virada para o mar, mas com meu quarto no segundo andar do prédio o som da rua chegava saltitante aos meus ouvidos. Os tetos altos dos quiosques e as árvores longas do calçadão atrapalhavam o visual antes ofertado pelo janelão do Othon Hotel. Usava as frestas das copas movidas pelos ventos e deliciava-me com os ângulos do mar que se deixava ver por alguns instantes. A briga com a temperatura ideal do ar condicionado que ficava com a boca virada para cama e meu corpo consumido pelo cansaço, ensurdeciam meus tímpanos e davam ao meu sono o nocaute certeiro para adentrar a noite.
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Dia e noite o calor consumia meu corpo. A alma alerta às elucubrações das diferenças entre ética e moral na profissão daqueles que lidam com informação exigia o restante da energia guardada, sobrando pouco ânimo para caminhar pela noite e/ou pela manhã - antes das palestras do simpósio que começava às 9h. A viagem não foi a turismo e, talvez por isso mesmo, deixou um gostinho de frustração por não explorar o trecho e, a um só tempo, provocava a tentação de mudar os planos e usufruir um pouco mais da cidade, ou pelo menos das águas de Iemanjá que só me molharam os pés às 7h da matina – aliás, horário também abrasivo que se assemelhava ao sol das 10h.
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De qualquer forma, me parece que justamente por todo esse incomodo com calor, geografia, comida e novas idéias se remexendo na minha cabeça é que fiquei com essa impressão da necessária batalha diária que é estudar e/ou trabalhar na Paraíba... por mais que reclamemos das condições de Brasília... a realidade de lá, nos faz repensar o quanto esse Brasil precisa de Justiça para se chamar de Democracia...
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Um beijo grande, Li.
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Quando recebi essa mensagem, senti saudades de quando escrevia e recebia cartas. A presença do outro, do selo às letras grafadas, completavam o prazer de receber notícias e de ter mais próxima aquela pessoa querida. Já escrevi e recebi boa quantidade de cartas pela vida e hoje isso ocorre raramente, pois as notícias seguem para lá e para cá via correio eletrônico. Dizem que as mensagens devem ser breves, objetivas, para não tomar muito tempo de quem lê, devido às atribulações cotidianas. Eu cá não concordo muito. Já temos muitas perdas sensoriais com a virtualidade, é gratificante receber um texto, uma mensagem onde possamos enxergar a pessoa e vivenciar momentos de leitura prazerosa. Nesse caso é uma crônica, crítica, mas com cheiro de poesia. Compartilho com alegria.
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Elizângela Carrijo é historiadora, artista e acima de tudo amiga.
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